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Tarifas no ferry-boat sobem e irritam usuários

Ninguém gostou do reajuste do ferry , cujos serviços são bastante criticados

 

Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

 

Mesmo com décadas de queixas sobre barcos antigos, desconforto, lentidão e um serviço considerado precário pela maioria dos usuários, a Agerba (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia) autorizou um novo aumento nas tarifas do ferry-boat, que faz a travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica. O reajuste de 4,5% começa a valer hoje (19), enquanto os novos valores na rodoviária de Salvador – aumento de 4,42% – entraram em vigor no sábado (17).

A medida acentuou o descontentamento da população, que vê o custo do transporte subir enquanto a qualidade permanece estagnada — ou piora.

No ferry, a tarifa para pedestres passou de R$ 6,60 para R$ 6,90 nos dias úteis e de R$ 8,80 para R$ 9,20 aos fins de semana e feriados. Estudantes pagam agora R$ 3,50 e R$ 4,60, respectivamente. Para quem depende do carro, o impacto é maior: o transporte de veículos pequenos passou de R$ 59,80 para R$ 62,50 em dias úteis, e de R$ 85 para R$ 88,50 nos fins de semana. Já os veículos maiores pagam R$ 79,80 e R$ 112,80. Na rodoviária, as taxas passaram para R$ 8,63 (interestadual), R$ 3,57 (intermunicipal) e R$ 1,48 (metropolitano).

Os reajustes mexem com o cotidiano de quem precisa se deslocar frequentemente, principalmente entre a ilha e Salvador. “Aumentam o preço para continuar oferecendo um serviço que não respeita ninguém. Os barcos estão velhos, mal ventilados, com cadeiras desconfortáveis e banheiros que ninguém tem coragem de usar. A gente embarca torcendo para não quebrar no meio do caminho”, critica a técnica de enfermagem Rosilene dos Santos, que mora em Itaparica e trabalha em Salvador. “Pago todo mês e não vejo retorno. O sentimento é de abandono”, diz.

As críticas não são novas. O ferry-boat, operado pela empresa Internacional Travessias Salvador (ITS), acumula queixas há anos. As embarcações, em sua maioria antigas, carecem de climatização, manutenção adequada e conforto mínimo. Embora a travessia esteja oficialmente prevista para durar cerca de uma hora, atrasos e lentidão são frequentes. Em feriados prolongados ou períodos de alta demanda, o caos se instala com mais evidência, mas para quem depende do sistema diariamente, o sofrimento é constante.

“Isso não é transporte digno. É uma humilhação diária”, diz o professor Edson Lopes, que viaja todos os dias entre Vera Cruz e a capital baiana. “A travessia poderia ser mais rápida com embarcações modernas, mas o que vemos são barcos do século passado. A gente se acostuma com a precariedade porque o Estado parece ter esquecido que existe gente vivendo do outro lado da Bahia.”

A Agerba, por meio de nota, justificou os reajustes como parte de uma atualização contratual anual, necessária para garantir a sustentabilidade econômica da operação. Não mencionou, no entanto, qualquer contrapartida em relação à modernização da frota ou à melhoria do atendimento ao público. A ITS, responsável pela operação, também não apresentou contrapartidas.

Enquanto o preço sobe, o serviço estagna. A promessa de construção da ponte Salvador-Itaparica, que poderia aliviar a dependência do ferry-boat, segue distante do papel. Para a população, resta pagar mais caro por um transporte que não acompanha a evolução do tempo.

Aumentos – E os aumentos não param por aí. Desde o início de 2025, Salvador vem acumulando reajustes em serviços essenciais. A passagem dos ônibus municipais subiu de R$ 5,20 para R$ 5,60, e o Elevador Lacerda, antes com tarifa simbólica de R$ 0,15, passou a custar R$ 1,00 — um aumento de mais de 560%. A sensação entre os usuários é de que tudo aumenta, menos o salário da população e o compromisso do poder público com a qualidade dos serviços.

Para Jéssica Almeida, atendente de farmácia que usa o ferry quase todos os dias, a conta não fecha. “Não é só a tarifa que pesa. É o tempo que perdemos, o cansaço, a frustração. A gente paga mais e continua sendo tratado como se não tivesse opção. Porque, na verdade, não tem”, reclama.

 

Fonte: Tribuna da Bahia