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Sarney e os 40 anos da democracia: “Sem Constituição, não haveria transição”

Aos 94 anos, ex-presidente reafirma trajetória única na política

 

Foto: Marcelo Ferreira/CB/DA.Press

 

Em entrevista ao Correio, primeiro presidente civil após o fim da ditadura narra o esforço de conduzir o país rumo à redemocratização. Vice de Tancredo Neves assumiu o Palácio do Planalto num país em choque e ambiente político conturbado

Aos 94 anos, o ex-presidente José Sarney tem um motivo especial, em 2025, para reafirmar sua trajetória única na política brasileira. No próximo 15 de março, completam-se 40 anos de um capítulo dramático da história nacional: a posse como presidente da República.

Na véspera, o presidente eleito, Tancredo Neves, havia sido submetido a uma cirurgia de emergência no Hospital de Base de Brasília. Para Sarney, aquelas semanas foram críticas para a recém-renascida democracia brasileira. “Enfrentei problemas quase intransponíveis”, relembra o ex-chefe do Palácio nesta entrevista ao CorreioBraziliense.

Uma das frentes mais delicadas era com os militares. Sarney lembra-se de dois personagens importantes nessa jornada: Leônidas Pires, “o melhor ministro do Exército que já tivemos” e Ulysses Guimarães. Em relação a este último, o ex-presidente lembra da recomendação expressa de se aprovar uma nova Carta Constitucional, em meio às ameaças institucionais.

“Ulysses, sem Constituição, não tem transição, porque a Constituição é que vai marcar a transição”, disse Sarney à época. São memórias como essas que justificam, segundo Sarney, uma intensa comemoração de quatro décadas de regime democrático sem hiato. “Estamos num caminho irreversível”.

Sobre como  como enxerga o Brasil de hoje, disse ele:

“Em primeiro lugar, eu, que sou um homem religioso, sou possuído de uma grande gratidão pela graça da vida que Deus me deu. Então, todos os dias, nas minhas orações, de manhã e de noite, a primeira coisa é agradecer. Vejo o Brasil com otimismo. Muitas vezes, todos nós temos certas dúvidas sobre o destino do país. E até começamos a duvidar daquela expressão usada por Stefan Zweig, que escreveu o livro “Brasil, o país do futuro”. Parece que é difícil a gente responder isso, quando a gente vê que ficamos muito atrasados na área de tecnologia. Tomamos uma decisão errada, de esperar sermos autossuficientes nessa matéria. O resultado é que nos atrasamos grandemente. Agora estamos verificando todo o mundo preocupado com a inteligência artificial, que é realmente o grande instrumento de mudança da civilização”.

 

 

 Fonte: Correio Braziliense