Olívia Santana elogiou o esforço do governador Jerônimo Rodrigues (PT) para superar as dificuldades orçamentárias da Bahia
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Em entrevista à Tribuna, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) elogiou o esforço do governador Jerônimo Rodrigues (PT) para superar as dificuldades orçamentárias da Bahia e implementar políticas públicas em áreas como saúde, educação e mobilidade. Ela destacou que o gestor “acorda cedo e dorme tarde”, e acredita que o povo reconhecerá esse empenho nas eleições de 2026. Olívia também afirmou que o PCdoB terá nomes para a chapa majoritária e que está organizado para a disputa proporcional, inclusive com sua pré-candidatura à Câmara Federal. A parlamentar ainda ressaltou leis de sua autoria, como a da dignidade menstrual, a reserva de vagas no SineBahia para mulheres vítimas de violência e o apoio à cultura da capoeira. Por fim, ela defendeu o polêmico projeto batizado de “Lei Ana Luíza”, que prevê indenização para famílias de vítimas fatais em operações policiais. “É uma forma de minimizar o descaso do Estado com essas famílias”, afirmou, rebatendo críticas e anunciando processo contra quem espalha fake news sobre a proposta.
Tribuna – Na semana passada a gente viu alguns dados dando conta de que houve um aumento no número de feminicídios no Brasil, corroborando inclusive outras pesquisas que apontam bem nessa direção. A senhora vê esse cenário com algum tipo de preocupação ou, de alguma forma, isso também reflete uma maior notificação e classificação desses assassinatos de mulheres como feminicídios, o que antes não acontecia muito por parte das autoridades?
Olívia Santana – Eu penso que ocorrem as duas coisas. Primeiro, que há mais estímulo a denúncias acerca da violência contra a mulher. Há uma responsabilização maior das instituições com as notificações de feminicídio. Antes havia muita resistência, muitos crimes de feminicídio eram classificados de outra forma, que ‘a mulher caiu’, enfim, havia um desvio de classificação dos tipos de homicídios que eram, na verdade, feminicídios e que não eram assim notificados. Então, eu penso que nós precisamos, ao mesmo tempo em que reconhecemos que há um aumento das denúncias, também precisamos de mais políticas públicas, uma grande infraestrutura de políticas públicas que possam coibir esse tipo de crime e, ao mesmo tempo, agilizar processos que julgam os responsáveis, os criminosos que praticam feminicídio no Brasil.
Tribuna – A senhora acha que o Brasil e o estado da Bahia também, principalmente com o governo atual, já avançaram nesse sentido? Ou ainda é preciso fazer muito mais?
Olívia Santana – Precisamos fazer muito mais. Tem políticas públicas que foram realizadas, que nunca houve na Bahia antes desse ciclo de governo de Wagner, de Jerônimo, do próprio Rui Costa, como foram a criação da Secretaria dos Direitos das Mulheres, a criação da Ronda Maria da Penha, a criação de um sistema de enfrentamento à violência contra a mulher, articulando, reunindo o sistema de justiça com o governo do Estado, com a participação também da Assembleia Legislativa, através da sua Comissão da Mulher. Agora, nós temos também uma Procuradoria da Mulher na Assembleia. Então, órgãos foram criados com o propósito de combater a violência contra a mulher e promover os direitos das mulheres.
Tribuna – É preciso fazer mais?
Olívia Santana – Mas nós precisamos de mais financiamento, de mais investimento, de uma estratégia que possa garantir uma ampliação, por exemplo, das delegacias especializadas. Nós temos ainda cerca de 16 delegacias, isso é muito pouco num estado que tem 417 municípios. Temos que ter as salas lilás nas delegacias de polícia, das mais diversas, porque toda delegacia tem que estar preparada – toda delegacia, repito – tem que estar preparada para receber uma denúncia sobre violência contra a mulher, e não apenas as delegacias especializadas. Isso aí amplia essa rede de suporte às denúncias, que são inúmeras, e, ao mesmo tempo, é necessário ter uma equipe sensível, qualificada, para receber essas denúncias e fazer os devidos encaminhamentos. É muito importante fortalecer a rede de proteção e apoio a mulheres em situação de violência. Quanto mais as mulheres se insurgem contra uma estrutura que nos vitima, que nos vê como seres inferiores, seres que devem ser subjugados, há um processo de desumanização das mulheres e, ao mesmo tempo, de ultravalorização dos homens. Enquanto houver essa estrutura de pensamento ainda hegemônica na sociedade, é preciso entender que vão continuar matando mulheres, né? Esses homens não conseguem aceitar mulheres insurgentes, mulheres que não se submetam, mulheres que reajam, mulheres que sejam senhoras das suas vidas, que põem fim num relacionamento abusivo, ou num relacionamento no qual simplesmente não se enxergam mais, não amam mais aquele parceiro. Então, o direito das mulheres de finalizarem relacionamentos afetivos precisa ser praticado, reconhecido e respeitado. E isso só se dá com uma nova educação dessa sociedade.
Tribuna – Um outro problema estrutural também que a gente tem é a questão do racismo. E a Bahia, inclusive, já tem uma delegacia nesse sentido. Como é que a senhora viu a inauguração dessa delegacia e a importância desse equipamento? E como a senhora avalia esse problema hoje no Brasil? A gente tem conseguido avançar no combate ao racismo, também nas instituições e na sociedade em geral?
Olívia Santana – Veja, eu observo essa situação da delegacia como uma conquista do movimento negro, uma agenda que a SEPROMI sempre abraçou, lutou para que acontecesse. E, finalmente, nós conseguimos que o governo de Jerônimo implantasse a delegacia, que é uma delegacia de combate ao racismo e ao racismo religioso – a intolerância religiosa é também um elemento importante de ser destacado aqui. Essa situação do racismo estrutural se materializa através da discriminação racial e tem um custo humano muito grande. Para você ter uma ideia, os dados do Atlas da Violência nos mostram que 89,95% das pessoas que foram mortas em 2024, em Salvador, eram pessoas negras. Na Bahia, como um todo, 94,96% das vítimas de morte violenta eram negras. Ainda que tenha havido uma queda no número absoluto de mortes no Brasil – em 2024 foram 1.557 mortes, e em 2023 foram 1.699 –, o que nós percebemos é que a população negra continua sendo o principal alvo dessas mortes, dessa violência. O racismo não é só na forma de tratar com desigualdade uma pessoa que vai procurar um emprego, ou na questão das oportunidades educacionais. Ele também é letal. A letalidade é o fim de linha do racismo, porque ele destrói vidas negras. Isso é uma situação gravíssima num estado como a Bahia. A gente percebe o contraste que há entre essa mortandade de pessoas negras, a má qualidade de vida da população negra, que vive em favelas, em lugares mais precários, mais exposta ao racismo ambiental, e, por outro lado, a falta de acesso às estruturas de poder – de poder político, econômico, e por aí vai. É preciso entender que o racismo é um dos piores problemas que nós temos que enfrentar num estado como o nosso, que é o mais negro do Brasil.
Tribuna – E unindo os dois temas, como é que a gente pode ampliar a representatividade da mulher negra na política? A mulher negra compõe grande parte da população, mas na política ainda não tem a representatividade que poderia e que merece ter.
Olívia Santana – Primeiro, os partidos políticos precisam levar mais a sério o enfrentamento do racismo nas instâncias de representação da sociedade. É preciso ter política pública nos partidos para garantir candidaturas negras, com financiamento dessas candidaturas, com um conjunto de suporte que possa projetar lideranças negras e mulheres negras. Também as lideranças políticas que controlam os espaços de poder, que são as principais responsáveis pelas estratégias eleitorais, que determinam muitas vezes quais candidaturas vão ter mais atenção, mais investimento e quais vão ser deixadas de lado – essas lideranças, que ainda têm uma mentalidade muito do século passado, precisam girar a chave. Precisam entender que ser antirracista não é somente falar que é, dar uma declaração a cada 20 de novembro. É preciso ter uma prática política que verdadeiramente combata o racismo e promova pessoas negras. Se essa cúpula política – seja da direita, seja da esquerda, dos diversos partidos – não pensar que nós temos que promover pessoas negras no nosso projeto político, essa promoção fica muito mais difícil de acontecer. A população negra tem muito mais dificuldade de acessar os mecanismos e os instrumentos de empoderamento político efetivo.
Tribuna – Quais são as principais dificuldades?
Olívia Santana – Por exemplo, em uma eleição, não é somente garantir que pessoas negras sejam candidatas. É uma luta conseguir as legendas, a abertura para sermos candidatas. Mas a luta maior é garantir investimentos econômicos, financeiros, distribuição correta e adequada do fundo eleitoral, respeito às cotas raciais e de gênero. É um conjunto de desafios que nós temos a enfrentar – e que não podem ser enfrentados apenas por nós, negras e negros. É preciso, repito, que as cúpulas políticas invistam e assumam compromisso com essa agenda.
Tribuna – A senhora enxerga hoje o governo Jerônimo Rodrigues como exitoso, de modo geral, no que se propôs a fazer? E ele também é politicamente forte para o ano que vem, quando vai tentar a reeleição?
Olívia Santana – Olha, eu sinto que o governador tem feito um esforço muito grande para garantir uma gestão exitosa num estado que é muito precário, que tem a maior parte do seu território no semiárido, árido ou semiárido, e, ao mesmo tempo, tem cerca da metade do orçamento de um estado como o Rio de Janeiro, por exemplo. A Bahia tem pouco mais de 70 bilhões de orçamento, enquanto o Rio tem quase o dobro disso, para uma população que é semelhante. Aqui são um pouco mais de 15 milhões de habitantes; no Rio de Janeiro, 16 milhões. E nós temos, verdadeiramente, um desafio de ter dinheiro, recursos econômicos para o financiamento das políticas públicas de combate à miséria, à pobreza e, ao mesmo tempo, garantir uma estratégia de desenvolvimento econômico que nos tire dessa situação de segregação em que vive, infelizmente, uma parcela importante da população. Mas eu reconheço que o governador Jerônimo tem trabalhado diuturnamente para enfrentar essas mazelas e promover a justiça social. Não é fácil, mas há muita vontade política de fazer esse enfrentamento, de mudar o cenário. A saúde, por exemplo, na Bahia, no que diz respeito aos hospitais e à regionalização da política de atendimento à saúde, tem tido um esforço grande, um investimento grande nessa direção. Os hospitais regionalizados ganharam um fôlego maior na gestão de Rui Costa e essa política tem sido continuada na gestão do governador Jerônimo Rodrigues. Na política de educação, ninguém pode deixar de reconhecer o investimento que o governo tem feito no parque escolar. As escolas do governador Jerônimo são completamente diferentes do que era o padrão das escolas que encontramos quando esse grupo político assumiu o Governo da Bahia. A própria política de valorização dos profissionais da educação também melhorou muito nessas gestões. Entretanto, há muito ainda por fazer e a gente vai ter que passar sebo nas canelas. Mas, como eu disse, o governador Jerônimo é muito trabalhador, é uma pessoa que levanta cedo e dorme tarde. Tenho certeza de que, na hora da disputa eleitoral, o povo baiano vai ter a capacidade de reconhecer esse esforço e dar a ele a oportunidade de um segundo mandato.
Tribuna – Os próprios líderes do Partido dos Trabalhadores têm falado também sobre aquele debate clássico de composição de chapa, inclusive defendendo uma chapa puro-sangue de três governadores. Qual a opinião da senhora sobre isso? E como o PCdoB pretende entrar nesse debate quando for o momento?
Olívia Santana – Nós ainda estamos debatendo a nossa tática eleitoral. O PCdoB é um partido que é muito organizado nos seus propósitos. A gente não deixa para discutir a eleição na hora da eleição. Sempre faz do ano anterior um ano de organização, de pensar a chapa. Nós já fechamos posição em relação à chapa de deputado federal. No ano que vem, vamos disputar três cadeiras, e o meu nome foi incluído entre os candidatos à federal. Estamos debatendo como vai ser a organização da chapa de deputados estaduais e também temos nomes, temos contribuições a oferecer para a chapa majoritária do governador Jerônimo. É uma eleição que envolve não só a escolha de governador e vice-governador, mas também de dois senadores, com seus respectivos suplentes. No momento mais adequado, vamos fazer esse debate também com o governador Jerônimo. O PCdoB é um partido que realmente tem um porte na Bahia. É um partido com dois deputados federais, quatro deputados estaduais bem votados, 13 prefeitos. Então é um partido que tem, sim, direito, que contribui com a construção dessa experiência no estado. E, obviamente, vamos buscar opinar sobre a composição da chapa majoritária, entendendo a necessidade de pensarmos juntos e decidirmos o que for melhor para o nosso estado da Bahia.
Fonte: Tribuna da Bahia