O presidente do PDT na Bahia, deputado federal Félix Mendonça Júnior, abordou os principais desafios que o Brasil enfrenta atualmente
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Em entrevista à Tribuna da Bahia, o presidente do PDT na Bahia, deputado federal Félix Mendonça Júnior, abordou os principais desafios que o Brasil enfrenta atualmente, com destaque para a economia, e apontou que, para ele, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem errado no diagnóstico e nas ações para enfrentar a crise. O parlamentar baiano criticou o aumento da taxa de juros e a falta de transparência nas políticas cambiais, além de questionar medidas como a isenção do imposto de renda e a política de cortes para a população mais vulnerável.
O deputado também se posicionou sobre a atual gestão da Prefeitura de Salvador, indicando que o PDT deve buscar uma participação proporcional nas decisões políticas e na administração municipal, sem imposições, mas com foco na contribuição para o desenvolvimento da cidade. Na ocasião, Félix comentou ainda o papel da vice-prefeita da cidade, Ana Paula Matos, do seu partido, elogiando sua capacidade e destacando sua importância no futuro político do PDT e da cidade. Na política estadual, ele se mostrou cético quanto à concretização do projeto da Ponte Salvador-Itaparica e ao avanço nas políticas de segurança pública do governo Jerônimo Rodrigues. Para ele, a falta de clareza e ação efetiva nos dois campos é um reflexo da falta de planejamento estratégico e de compromisso com soluções duradouras.
Confira a entrevista na íntegra:
Tribuna – Quais são, em sua opinião, os principais pontos E que a economia tem ido mal e o que podemos esperar em um futuro próximo?
Félix Mendonça Júnior – O problema do governo que é muito sério, é o problema da economia. Quando você tem um problema econômico não há salvação na política, ou seja, nem mesmo Sidônio Palmeira [novo ministro da Comunicação], que é um grande profissional do marketing e conhece bem a linguagem de acessar o povo, além de ser muito inteligente, pode salvar o governo de um problema econômico que está por vir. Então acho que o problema do governo é muito mais que um problema de comunicação, de relacionamento com o Congresso. O problema é que a economia não está bem. Na economia, a população anda toda assustada. A exemplo desse evento que chegou a beirar o ridículo da situação do Pix. Parece que o governo só pensa em arrecadar. Está querendo cortar aquele dinheiro que circula na economia, que são de pessoas com benefícios, e um corte que não influencia em nada praticamente das contas do governo. Por outro lado, o Brasil vem na contramão do mundo, aumentando juros sem nenhuma explicação lógica, sem nenhuma explicação plausível, sem nenhum problema na economia, sem nenhum problema para dizer que temos uma inflação descontrolada, então não há uma motivação desse aumento desenfreado do juros na contramão mundial, tem que ter uma explicação plausível, ou seja, a cada 1% da taxa de juros que aumenta são R$ 40 bilhões que o governo gasta, o governo quer fazer uma economia cortando benefícios de pessoas que necessitam, dinheiro que circula nos municípios, e que vão para a economia, e no outro lado está aumentando juros apenas, a meu ver, só aumenta o pagamento do custo da dívida pública.
Tribuna – A gente viu também essa questão da isenção do imposto de renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil, que até o próprio governo admitiu que foi em um momento errado, e ajudou inclusive o dólar a disparar, e até hoje o dólar continua alto, só começou a baixar nesta última semana. Como o senhor vê essa questão?
Félix Mendonça Júnior – O preço dos alimentos também está aumentando. Ou seja, o governo está tonto na questão econômica. A gente só pode imaginar que esteja tonto, porque a gente não vai imaginar que alguém esteja ganhando nesse movimento do dólar, porque se uma má informação vai para o mercado, muita gente ganha dinheiro. Com o aumento ou com o recuo do dólar. Com o aumento ou com o recuo da bolsa. Isso é uma prática de informações que muita gente ganha dinheiro. Não quero imaginar que esteja por trás de uma situação como essa, que aí seria um crime. A gente não vê por exemplo o Banco Central dando explicações sobre o aumento. A gente vê o presidente do Banco Central, que antes de tomar posse, falava em aumento de juros. Ora, ele vem com essa incumbência e determinação? A gente vê só o governo falando em taxar, em aumentar a fiscalização, em ver a movimentação da população baseada no Pix para poder depois cobrar, porque só tem esse sentido, se ele quer monitorar o Pix das pessoas só pode ser para poder cobrar depois das pessoas físicas e jurídicas. Mas o cerne da questão da economia, a política cambial, por exemplo, quando é interessante o governo diz que o dólar deve flutuar ao mercado, quando não é interessante, ele despeja bilhões de reais na economia comprando dólar. E alguém ganha com isso. A gente está muito mal informado, e um debate muito superficial sobre a questão econômica. Mesmo a Rússia, que é o único país que está com o juro mais alto ou subindo juros junto com o Brasil, está em uma situação de guerra. Mesmo a Rússia está conseguindo negociar muito melhor que o Brasil.
Tribuna – O governo inclusive fez uma reunião para discutir medidas para baixar o preço dos alimentos. O senhor acha que existe alguma medida de fato efetiva para isso?
Félix Mendonça Júnior – Você não tem um recurso financeiro para o produtor de alimentos, como você pode querer ter uma produção de alimentos barata, se o produtor não tem recursos? Como então vai baixar? Aí sim seria mágica. Você tem que ter linhas de crédito para os agricultores que possam ter facilidade de compra, facilidade de acesso a essas linhas de crédito, uma coisa simplificada. Muitos agricultores hoje estão com problemas financeiros e com problemas financeiros eles também não têm acesso a recursos. Como irão produzir? A questão de alimentos é: você tem que aumentar a produção e consequentemente vai reduzir, tanto que alguns alimentos da safra ficam bem mais baratos. A gente sabe que quando está produzindo bastante cebola, a cebola fica barata. Então o governo tinha que atuar como um mercado regulador comprando os estoques quando tiver excesso, claro, dos alimentos não perecíveis, mas também oferecendo recursos a custo barato para que ele possa tomar um recurso, investir em sua plantação, investir em sua pecuária, que hoje qualquer recurso que você tome no banco você vai perder sua área, sua garantia, porque não existe produção que pode sobreviver com o custo do dinheiro que está hoje no Brasil.
Tribuna – Falando um pouco sobre política local, o prefeito Bruno Reis tem feito algumas mudanças na gestão. Como o PDT vai se posicionar? O partido irá reivindicar algum espaço? Como o PDT está lidando também com os possíveis espaços de Ana Paula Matos?
Félix Mendonça Júnior – Nós ainda não conversamos com o prefeito Bruno Reis. Espero ter essa conversa o mais rápido possível. O PDT passou para quatro vereadores, tem a vice-prefeita também, então, claro, tem os espaços das pessoas com representantes dos vereadores, a própria Ana Paula, e tem que ter o espaço do PDT que a gente vai reivindicar, claro, sem colocar a faca no pescoço de ninguém, oferecendo nomes capazes, e dialogando com a Prefeitura de Salvador para que ele possa melhor exercer o seu mandato. Gostaríamos de contribuir com o prefeito oferecendo bons nomes, mas também queremos ter uma participação, como todos os outros partidos, respeitando o tamanho dos partidos, queremos ter uma participação proporcional, não mais que os outros, mas também não queremos ter menos.
Tribuna – Quais os espaços o senhor acha que o PDT se acomodaria melhor? O partido já tem algum nome para colocar para o prefeito?
Félix Mendonça Júnior – Nós vamos discutir, a depender da área que esteja disponível, a gente vai ver os nomes que se encaixam melhor, a gente não pode chegar para o prefeito e dizer ‘temos esse nome aqui’. Às vezes o nome é bom para uma área, mas não para outra. Então depois da discussão com o prefeito vamos ver quais as reivindicações que a gente pode fazer e aí iremos oferecer os nomes. A participação do PDT foi muito forte, além da vice-prefeita que contribuiu com a eleição. Queremos contribuir com o trabalho do prefeito para que possa ficar tão bom ou melhor do que está hoje.
Tribuna – A vice-prefeita Ana Paula disse que o lugar onde Bruno colocá-la, ela irá. Poderia ser qualquer secretaria. O PDT vai ajudá-la na escolha ou deixá-la mais livre para conversar com Bruno?
Félix Mendonça Júnior – Hoje Ana Paula seria um coringa que Bruno tem ao lado dele. Ela tanto pode substituir o prefeito em suas ausências necessárias, em suas viagens, como ela é capaz de assumir qualquer secretaria, qualquer espaço que o prefeito determine. Então o PDT vai apoiar o que ela tiver vontade de fazer, e, claro, se precisar de um reforço nosso, que não precisa, nós vamos estar ao lado dela, porque ela é um quadro importante do partido, é uma amiga, um quadro importante para Salvador. Eu vejo em Ana Paula um futuro muito bom. Ela já iniciou o governo substituindo Bruno Reis, acho que isso é um bom aceno, e vejo Ana Paula substituindo-o no futuro.
Tribuna – Como foi a reunião que o senhor teve com os vereadores eleitos em Salvador e com Ana Paula? Foi tratado algum assunto mais político e de gestão?
Félix Mendonça Júnior – Os vereadores eleitos pediram uma reunião justamente para debater os espaços na Câmara Municipal. O PDT foi agraciado na distribuição dos espaços da Mesa Diretora. Todo mundo está satisfeito. E agora está na hora de reivindicarmos junto com o presidente Carlos Muniz espaços nas comissões, espaços nas relatorias. E, também, na Prefeitura de Salvador, não tivemos ainda com o prefeito, mas claro que a gente tem que conversar com o prefeito junto com os vereadores também, porque isso é uma coisa única. Tem algumas sugestões nossas, como a criação de um espaço que seja específico para a Baía de Todos os Santos, ou seja, eventos culturais, a sua limpeza, os eventos náuticos, o transporte, enfim. Salvador tem a maior baía do mundo inteiro, em termos de tamanho físico é a segunda maior, mas digo que é a maior porque ela é navegável, ela é muito mais utilizável do que qualquer outra baía do mundo, então temos espaços muito pouco aproveitados, a gente tem reivindicado ao prefeito que crie, não sei ainda se uma companhia ou se uma própria secretaria específica para o desenvolvimento do turismo, do saneamento, do transporte, utilizando a Baía de Todos os Santos, que ela possa ser vista como um elemento que precisa ter os olhos diretos para ela, isso é fundamental para o crescimento de Salvador, porque daqui a 10 ou 20 anos, a Baía de Todos os Santos vai abrigar eventos mundiais. Não estou prevendo o futuro, mas é natural que o turismo venha para cá, que a gente tenha grandes eventos, que a gente tenha muito mais marinas à disposição, que a gente tenha até indústria para barcos e lanchas. Isso vai incrementar muito a economia e também o transporte, enquanto essa ponte não vem.
Tribuna – Como o senhor está vendo esse cenário na Assembleia Legislativa em relação à reeleição de Adolfo Menezes e essa disputa pela vice-presidência? Qual é o posicionamento do PDT?
Félix Mendonça Júnior – Eu acho que Adolfo é um grande nome, está sendo um grande presidente, é uma pessoa que inclusive eu tenho raízes com a família dele, mas está se discutindo uma coisa que “ele é o presidente, mas pode deixar de ser, então o importante agora é quem é o vice-presidente, e, sendo vice-presidente, a disputa fica agora para quem é o vice-presidente, aí o vice-presidente vai ter que chamar uma eleição de imediato, tem que mudar o estatuto, o regimento, para poder o vice-presidente não virar presidente”, enfim. Poxa, é muito mais fácil seguir a lei, é muito mais fácil escolher um presidente que não venha ter problemas na justiça do que ficar enfrentado isso tudo. Eu acho um pouco confuso tudo isso, sabendo que não é o correto, sabendo que não é o legal, insistindo em uma posição que não deve ser insistida. Mas tudo bem. Acho que Adolfo tem toda condição de ficar aí por muitos mais anos, mas não é o que diz a lei. A lei diz que não pode ter reeleição, mas o governo quer ter a reeleição, eles querem fazer isso, eu não concordo, eu acho que tem que ser seguida a lei.
Tribuna – O senhor acha que o governo Jerônimo vai conseguir pelo menos iniciar a construção da ponte Salvador-Itaparica?
Félix Mendonça Júnior – Eu acho que não. Porque a gente não viu contrato ainda dessa ponte, a gente não viu de onde vem o recurso, a gente não viu nada dessa ponte. Eu já vi propaganda fazendo sondagem, tem duas boias no meio do mar, que não são nem sinalizadas, colocadas pelos chineses, isso é uma coisa até para se ver com a Marinha, porque pode causar um acidente náutico, segundo relatos que já ouvi. Mas pelo andar da carruagem, pelas explicações que a gente ouve, a gente só vê oba-oba, toda véspera de eleição, toda véspera de um movimento maior se divulga isso, depois amorna e a maré fica parada, e quando é interessante se usa isso. Deveria ser dito o seguinte: olha, está muito cara, não temos condições de fazer, vamos esperar o tempo melhorar, quando Deus der um tempo melhor, do que ficar enrolando. E aí a gente ficar ouvindo que agora vai sair. Não dá para ser assim, não deve ser assim. É tão fácil falar a verdade.
Tribuna – O PDT já decidiu apoiar ACM Neto em 2026?
Félix Mendonça Júnior – Nós ainda vamos conversar muito internamente. Não temos apoio automático a um candidato do governo ou a um candidato da oposição. Hoje a gente não sabe nem quem é o candidato do governo nem quem é o candidato da oposição. Eu falo que não sabemos quem é o candidato do governo porque estão falando até em trocar e colocar um outro candidato e não o governador atual. Então a gente não sabe se Jerônimo vai concorrer realmente à reeleição, e a gente não sabe quem vai ser o candidato da oposição. Então, primeiro vamos conversar primeiro com os prefeitos, com nossas lideranças no interior e Salvador, para saber do nosso alinhamento, da nossa preferência ideológica, e depois ver os candidatos. Além de ver se teremos algum candidato que a gente possa colocar ou para o governo ou para participar da chapa majoritária, porque nós queremos participar da chapa majoritária, e o PDT vai ter uma posição dele tomada independentemente porque nós não somos subordinados, nem ao governo nem à oposição. Então o PDT vai tomar sua posição independente do governo e da oposição. Tem que ter independência, ou vira puxadinho de A ou de B, nem do governo federal, estadual ou municipal, nem de ACM Neto nem de ninguém. Vamos conversar o que é melhor para a Bahia, vamos ver quem são os candidatos, e isso a gente puder e tiver candidato, nós vamos lançar um candidato do PDT. Se não tivermos um candidato, vamos apoiar o candidato, mas também vamos querer participar da chapa majoritária.
Tribuna da Bahia