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Furtos contra varejos e supermercados crescem

De acordo com os cálculos da entidade, os furtos internos e externos – provocados por clientes, funcionários, fornecedores e promotores – representaram, somados, 31,7%, em média, das perdas no ano de 2023

 

Foto: Romildo de Jesus

 

Fatores socioeconômicos, crescimento da insegurança alimentar, mudanças nos padrões de consumo, desigualdade de renda ou apenas oportunismo e falta de segurança. Estes são alguns dos motivos que têm provocado o aumento de roubos em supermercados, lojas e no varejo em geral, conforme a última pesquisa da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe).

De acordo com os cálculos da entidade, os furtos internos e externos – provocados por clientes, funcionários, fornecedores e promotores – representaram, somados, 31,7%, em média, das perdas no ano de 2023. Levando em consideração que, segundo o IBGE, o varejo brasileiro movimentou R$ 2,23 trilhões em 2023, a perda apenas da fatia projetada dos furtos (31,7%) dentro do bolo total, pode ser estimada em pouco mais de R$ 11 bilhões. Os dados do ano de 2024 ainda estão sendo compilados.

A pesquisa reflete também a realidade de Salvador e da Bahia, onde a escolha dos produtos roubados vai depender do grau de facilidade encontrado pelo criminoso. Na lista de preferência estão o café, azeite, shampoo, condicionadores, chocolate, cerveja, refrigerante, bebidas destiladas, tabaco e carnes nobres. Mas roupas e outros adereços também podem ser alvos.

Para especialistas, o surgimento de novas modalidades desses crimes acabam prejudicando também o consumidor. Isso porque, diante do alto custo e da concorrência, o baque é repassado aos compradores.

“Temos notado o aumento de roubos nos últimos anos. Em alguns casos, são de fato roubos famélicos – pessoas com fome. e Em outros, são roubos de pessoas para a revenda, para trocar muitas vezes por drogas, e é aí que encontramos o azeite, o chocolate, as bebidas”, diz um gerente de um mercadinho do Centro da Cidade que preferiu não ser identificado.

“Não queremos que nossos clientes pensem que estamos fragilizados ou que nossas lojas são inseguras”, acrescenta.

A pesquisa da Abrappe, diz que o número de 31,7% de furtos resultado de perdas por furtos desde 2019. O recorte específico da Bahia e de Salvador não foi feito pela Abrappe, tampouco pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). No entanto, refletem a realidade das principais capitais e são utilizados em convenções e workshops de diversas redes nacionais para incentivar o uso da tecnologia e traçar estratégias de combate.

Em uma volta por estabelecimentos da cidade, foi possível perceber que as lojas não tomaram, ainda, as medidas adotadas em outros estados, tais como: lacres de segurança em alguns produtos como o azeite de oliva, manutenção de bebidas caras em caixas ou entradas e saídas com detectores.

“Na Bahia e no Brasil como um todo, nós temos uma questão que é preciso ter muito cuidado. Somos um povo de maioria negra e pobre. Não tem cabimento colocar seguranças para ficarem seguindo as pessoas, para depois termos nossas lojas expostas nas redes sociais sob diversas acusações. Então, muitos casos são delicados, é preciso cuidado”, destaca a gerente de uma loja de roupas a preços acessíveis na Avenida Sete.

Funcionários

De acordo com a Abrappe, só foi possível chegar aos números se baseando em dados como monitoramento de imagens por vídeo de clientes e funcionários. Também serviram como evidências diversas embalagens violadas logo após o manuseio de empregados.

Dos 31,7% de perda, 9,8% dos furtos foram cometidos pelos próprios funcionários, conforme a pesquisa da Abrappe. . A checagem é feita através de filmagens dos próprios estabelecimentos.

Das lojas onde a Tribuna esteve presente, uma delas destacou crimes cometidos por funcionários. “Ela estava utilizando o próprio pix para receber o pagamento das peças de roupa. Não fazia isso o dia todo, ela era muito comedida. Descobrimos porque uma cliente inocentemente veio nos questionar se fez o Pix certo e vimos o nome da funcionaria”, conta a gerente.

Esquemas são combinados entre funcionários e clientes

Em muitos casos, os funcionários agem em conjunto com parentes e familiares. Práticas comuns são esconder produtos em sacos de lixo, levar para fora e depois recupera-los; Desvio de mercadorias nas áreas onde elas chegam pelos caminhões; acatar recebimentos de pallets vazios em esquemas de desvios de quadrilhas organizadas; contagem de produtos anotada na conferência que é divergente da quantidade recebida, dentre outras.

Já entre os consumidores, o esquema também é amplo: o comprador deixa produtos dentro do carrinho e passa o carrinho sem que o caixa veja e depois disso põe a sacola de compra dentro do produto furtado, escondendo-o. Parentes e amigos de funcionários passam produtos em frente ao caixa que não registra tudo, ou registra com código de outros produtos mais baratos, em comum acordo. Também há consumidores que colocam mercadorias dentro de outras embalagens de forma oculta; escondem produtos em carrinhos de bebês ou casacos.

Para se ter uma ideia, a empresa Nextop tem mais de 400 mil vídeos arquivados os clientes relacionados a furtos, conforme reportagem do Valor Econômico.

 

 

 

 

Tribuna da Bahia