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Força-tarefa retira coral invasor que ameaça a vida marinha na Bahia

As investigações apontam que o organismo, comum no Oceano Índico, mais especificamente na região de Singapura, foi trazido para o Brasil por meio de plataformas de petróleo e de grandes embarcações

 

 

Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

 

A Ilha de Itaparica foi palco, na manhã de ontem, de uma operação pioneira formada por órgãos federais e estaduais, mergulhadores, pescadores e pesquisadores de quatro universidades brasileiras com o objetivo de monitorar e erradicar um coral invasor que tem ameaçado a biodiversidade marinha na Baía de Todos os Santos (BTS). Denominado de Chromonephthea braziliensis, a espécie pode causar a desestruturação na formação de corais, a redução de espécies nativas e o afastamento de peixes, impactando na pesca de subsistência e até mesmo na economia do mar.

As investigações apontam que o organismo, comum no Oceano Índico, mais especificamente na região de Singapura, foi trazido para o Brasil por meio de plataformas de petróleo e de grandes embarcações, e detectado pela primeira vez na década de 1990, no Rio de Janeiro. Na Baía, a descoberta foi feita em 2023 por pescadores da Ilha da de Itaparica que notaram o afastamento de peixes e um ‘coral exótico’ na região.

“O octocoral pode acabar com espécies marinhas que fornecem alimentos para peixes e animais de pesca. São espécies que podem invadir outras áreas e expulsar espécies nativas de corais, desequilibrando o ecossistema”, explicou o superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Tiago Porto.

A bióloga e pesquisadora da UFBA, Tatiane Aguiar, vai mais longe e utiliza o exemplo do ocorrido com o Rio de Janeiro para alertar sobre a necessidade de erradicar a espécie invasora na Baía de Todos os Santos. Segundo ela, a desestruturação da formação dos recifes de coral pode impactar a zona costeira.

“Você perder recife de coral está perdendo a proteção da zona costeira. Então, além da questão da perda da biodiversidade, tem a proteção física. Retira espécies que compõem esse substrato e pode ir para outras áreas. Pode ir pro Sul da Bahia, pro Arquipélago de Abrolhos”, destacou.

Autorizada pelos órgãos ambientais, a operação de ontem fez parte da segunda etapa do experimento que pretende eliminar o organismo da BTS e serviu para comparar os diferentes métodos de remoção da espécie invasora. Os pesquisadores mergulharam no entorno do Píer do Vapor da Ilha de Itaparica e, durante o monitoramento, verificaram a efetividade de algumas das estratégias de erradicação aplicadas na primeira etapa, em 22 de dezembro. Na ocasião, o grupo realizou a remoção manual de alguns organismos e em outros injetou três compostos químicos: sal azedo, vinagre e água doce.

“A priori, os resultados parciais mostram que a remoção manual é mais eficiente para a erradicação e isso é um desafio porque o método é mais lento”, informou o superintendente.

Segundo Porto, em dois meses será possível ter ideia da melhor estratégia. “Vamos monitorar para saber se o organismo vai retornar aos locais de onde foram removidos. Depois disso, traçaremos a estratégia da remoção de todas as colônias que estão aqui na região”, comentou.

A força-tarefa para erradicar o coral invasor conta com apoio de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade Federal de Alagoas, Universidade de São Paulo, Universidade Rural de Pernambuco, do Senai-Cimatec e da organização Promar. “Podemos adiantar que o tratamento com o sal azedo e manual da raspagem são os mais efetivos. Onde raspamos não voltou. A pilastra do píer está lisa. E o sal azedo está fazendo a espécie se soltar, pois encontramos vários pedaços mortos no oceano”, afirmou.

Força-tarefa – Além dos pesquisadores das universidades, participam da operação a Sema, o Inema, a Capitania dos Portos, a Polícia Ambiental, o ICMBio e o IBAMA. “Quem está fazendo o manejo são os pesquisadores das universidades. A Sema está fazendo apoio porque envolve o Programa de Gerenciamento Costeiro. O Inema autoriza e é gestor da unidade de conservação da APA Baía de Todos os Santos. A Capitania e a Polícia Ambiental dão suporte com logística e autorizações. O ICMBio e o IBAMA com autorizações federais”, frisou Luana Ribeiro, bióloga e diretora de Política e Planejamento Ambiental da Sema. O assessor técnico da direção-geral do Inema, Eduardo Barros, acompanhou a operação.

Tribuna da Bahia