Mais de 55% dos rios do país estão perdendo água para o subsolo, o que pode ameaçar a sua vazão
Foto: Samantha Rufino / g1 RR
Algumas cidades baianas estão sem chover há alguns meses e, aliado a esse cenário de estiagem, a elevação da temperatura gera aumento do consumo, contexto que impacta na gestão de mananciais e ameaça o abastecimento de água no estado. De acordo com a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), ações estão sendo adotadas com foco na retomada do volume de água de sistemas de abastecimento e, no estado, a barragem de Água Fria II, que abastece Vitória da Conquista, está em estado de atenção.
Conforme pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP) e publicada na revista Nature Communications, mais de 55% dos rios do país estão perdendo água para o subsolo, o que pode ameaçar a sua vazão. Outro estudo, de autoria do estudo do Instituto Trata Brasil, aponta que a onda de calor que se manifesta no Brasil é um fenômeno climático responsável pela redução do volume de água e aumento na concentração de poluentes nos mananciais, além do aumento do consumo de água pela população, o que pode causar escassez temporária.
Nesta semana, uma massa de ar quente e seco tem sido responsável por elevar temperaturas em mais de 5°C da média, em várias regiões brasileiras. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), áreas dos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, são afetadas, cuja condição se estende, ao longo da semana, pelos estados do Goiás e da Bahia.
Em nota, a Embasa esclarece que a captação de água para abastecimento acontece a partir de diferentes mananciais, como rios, poços e barragens e que a estiagem afeta todos os tipos de mananciais porque impede a plena reposição de suas águas. “Além disso, o calor aumenta o consumo de água pela população, reduzindo o volume disponível no sistema. Em sistemas alimentados por poços, a estiagem provoca o rebaixamento do nível do lençol freático, o que causa redução no volume de água disponível, por isso é preciso perfurar novos poços”, explica a empresa, que informa estar adotando essa prática para retomar o volume de água no sistema que abastece Serrinha e Conceição do Coité.
“Hoje, na área de atuação da Embasa, dentre os principais reservatórios, apenas a barragem de Água Fria II, que abastece Vitória da Conquista, está em estado de atenção. Com o objetivo de preservar e prolongar a autonomia da barragem de Água Fria II, a Embasa vem operando, de forma contínua, os mananciais alternativos para esse sistema, com captação nos rios Catolé e Gaviãozinho. Além disso, a empresa vem planejando ações a serem implementadas, no curto e médio prazo, para ampliação da vazão captada nestes dois mananciais, buscando reduzir, cada vez mais, o uso da água reservada na barragem de Água Fria II”, informa.
Para garantir a segurança hídrica em período de estiagem, a Embasa destaca que também realiza obras de implantação de novos sistemas e de interligação de sistemas existentes. “Hoje, estão em andamento as obras da adutora Pontal-Centro, que dará mais flexibilidade ao abastecimento de Ilhéus, e os grandes sistemas integrados de Planaltino/Maracás e de Anagé/Maetinga e Presidente Jânio Quadros, por exemplo”, complementa.
Em Paramirim, o sistema operado pela Embasa passou a contar com a nova adutora de integração do Vale do Paramirim, construída pela Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb) e entregue à Embasa neste mês de fevereiro pelo presidente Lula. Essa obra tem como objetivo abastecer, de forma alternativa, a partir da barragem do Zabumbão, os municípios de Rio do Pires, Ibipitanga, Macaúbas, Boquira e Ibitiara (zona rural) em caso de necessidade e/ou exaurimento dos seus respectivos mananciais.
Ainda na região do Vale do Paramirim, a Cerb está realizando obras de implantação da barragem do Rio da Caixa para proporcionar mais segurança hídrica para a região. Em Uauá, a Embasa está executando a 2ª etapa da obra de implantação da adutora de interligação Canudos-Uauá, que tem como objetivo atender a sede municipal de Uauá.
“São ações estruturantes que visam contrapor os efeitos da estiagem, não apenas aumentando a quantidade de água disponível, como também proporcionando maior flexibilidade de mananciais aos sistemas de abastecimento”, reforça a Embasa. Além disso, a empresa destaca a importância do consumo consciente e sustentável por parte dos usuários dos sistemas de abastecimento.
Tendo em vista o período de estiagem que afeta a Bahia, a preservação dos mananciais se torna ainda mais urgente, como alerta a Embasa. “Ainda que os mananciais utilizados pela Embasa apresentem relativa segurança hídrica e que diversas ações estejam em execução para reforçar a sua preservação e possibilitar a continuidade da distribuição de água, é importante ressaltar que a escassez de água intensifica a necessidade de ações responsáveis por parte de toda a sociedade, não só da Embasa. É fundamental que cada cidadão adote hábitos conscientes no uso da água, evitando desperdícios e colaborando com a proteção dos recursos hídricos. A conscientização coletiva é essencial para o bom funcionamento do abastecimento público de água, especialmente em tempos de seca prolongada”, complementa.
Tribuna da Bahia