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Divaldo Franco: O Adeus a um missionário do amor e da caridade

O legado de Divaldo transcendeu os muros da Mansão do Caminho. O impacto de sua missão foi reconhecido por diversas personalidades da política e da cultura brasileira

 

Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

 

Na noite da última terça-feira, 13 de maio, às 21h45, o Brasil se despediu de um de seus maiores líderes espirituais: Divaldo Pereira Franco, o “Tio Di”, faleceu aos 98 anos em sua residência, na sede da Mansão do Caminho, em Salvador. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. O desencarne do médium e filantropo emocionou milhões de admiradores e seguidores de sua obra, provocando uma verdadeira corrente de homenagens no Brasil e no exterior.
Para prestar as últimas homenagens, foi organizada uma programação especial no ginásio de esportes da própria Mansão do Caminho. Centenas de pessoas enfrentaram longas filas para se despedir de quem, por quase um século, se dedicou ao amor, à caridade e à promoção do bem.
Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
Um legado de missão e luz 
O presidente da Mansão do Caminho, Mário Sérgio Almeida, destacou que Divaldo foi um verdadeiro missionário. Em suas palavras, ele foi à Bahia o que Irmã Dulce representou para o catolicismo: uma presença luminosa, destinada ao serviço ao próximo. “A tarefa dele era servir a Jesus e ao próximo. Ele transmitia esse amor a todos. Exerceu a caridade na acepção verdadeira da palavra. Um rapaz simples, que saiu de Feira de Santana, fez curso de datilografia, tornou-se professor… e construiu uma obra dessa dimensão com o auxílio do mundo espiritual. Foi orientado por Joana de Ângelis e cumpriu sua missão. Nós estamos tristes, mas o mundo espiritual está radiante com seu retorno”, disse.  Mário, que conviveu com Divaldo por mais de três décadas, falou sobre o impacto pessoal dessa convivência: “Tive a honra de estar ao lado de um anjo por 35 anos. Isso é uma concessão divina. E ele sempre dizia: ‘Age de tal forma que as tuas pegadas no mundo criem marcas luminosas’. Agora, a nossa missão é seguir os passos que ele deixou”, ressaltou.
Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
A obra que transforma vidas 
O depoimento de Dilma Correia da Silva, a “Tia Dilma”, uma das mais antigas colaboradoras da Mansão do Caminho, revela a dimensão humana e espiritual de Divaldo. Chegando à instituição ainda jovem, ela foi incumbida de cuidar de cinco crianças órfãs, mesmo sem experiência. “Ele confiou em mim, e quando eu tinha dúvidas, ele estava lá para orientar. Acolheu não só as minhas crianças, mas mais de cem outras ao longo dos anos”, disse emocionada.
Formada em biologia, Dilma ficou impressionada com a profundidade dos conhecimentos de Divaldo sobre ciência e espiritualidade. “Falava de paleontologia, de psicologia, de todas as áreas, mesmo sem faculdade. Aquilo me despertou para o espiritismo, que antes me causava medo. Mas com ele, fui compreendendo, estudando os livros de Kardec, e tudo fez sentido”, afirmou.
Entre as muitas experiências vividas, ela relembra um episódio marcante de materialização espiritual durante uma reunião: “Ele levantava as mãos e de repente surgiam rosas vermelhas que caíam sobre nós. Lembro também de uma vez que um visitante do Rio de Janeiro passou mal, e Divaldo aplicou um passe, materializou um líquido que parecia mel de cana, e massageou o peito do homem. Ele viveu muitos anos depois disso”, concluiu.
Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
Uma nova família 
Ednilson Pereira da Silva, um dos filhos afetivos de Divaldo, teve sua vida transformada por ele. Sua mãe biológica, no leito de morte, pediu que uma das crianças fosse acolhida pela Mansão. Divaldo aceitou, e Ednilson e sua irmã gêmea foram adotados. “Ele nos deu amor, carinho e disciplina. Nos apresentou a doutrina espírita e um Jesus de amor. Ele não apenas falava, ele vivia o que ensinava. Quando víamos ele abaixar para pegar um papel do chão, aprendíamos que o exemplo é mais forte do que qualquer palavra. Até hoje, fazemos isso por onde andamos”, afirmou.
Com gratidão, Ednilson ressaltou que a saudade será preenchida pelo legado de amor: “Divaldo se doou por completo. Ele dizia que doar é fácil, mas doar-se é difícil. Ele fez isso a vida toda.”
Quase seis décadas de voluntariado 
A enfermeira Tânia Menezes, voluntária desde 1965, também teve sua vida marcada pela convivência com Divaldo. Seu pai foi tesoureiro da instituição por mais de 50 anos, até que ela mesma foi convidada por Divaldo a assumir o cargo. “Ele me ensinou sobre amor ao próximo, sobre servir, sobre manter a harmonia mesmo nas dificuldades. Tio Divaldo foi e sempre será um grande exemplo”, disse emocionada.
Menezes compartilhou uma experiência espiritual impactante que viveu durante sua primeira gravidez. Sofrendo com cálculo renal, recebeu do próprio Divaldo uma orientação espiritual transmitida pelo espírito do Dr. Bezerra de Menezes. “Fiz o tratamento homeopático indicado e em dois dias eliminei o cálculo sem dor. Meu médico não acreditou. Esse foi apenas um dos inúmeros momentos em que vi a espiritualidade atuar através dele”, concluiu.
Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
Homenagens de líderes e artistas 
O legado de Divaldo transcendeu os muros da Mansão do Caminho. O impacto de sua missão foi reconhecido por diversas personalidades da política e da cultura brasileira.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, prestou uma emocionada homenagem ao médium baiano. Em suas palavras: “O espírito de caridade de Divaldo Franco foi referência para a Bahia e para o mundo. Ele nos deixa um legado de solidariedade, empatia, fé e amor ao próximo. Divaldo levou a luz do nosso estado ao mundo e ajudou a mudar a vida de milhares de pessoas com sua ação e sabedoria. Líderes como ele, como o Papa Francisco e como Pepe Mujica, seguem trajetórias semelhantes, com mensagens de amor, respeito e cuidado. Que o seu legado siga inspirando todos nós”, disse.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis, também expressou seu pesar pela partida de Divaldo: “É com imensa tristeza que recebo a notícia do falecimento do médium, escritor e filantropo Divaldo Franco. Sua partida deixa uma lacuna irreparável, mas seu legado de amor e serviço ao próximo permanecerá vivo por gerações. Divaldo foi um dos maiores líderes espirituais do Brasil e dedicou sua vida a espalhar o bem, a paz e a solidariedade. Que Deus conforte todos os seus seguidores, familiares e amigos”, afirmou.
Já o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, destacou a relevância da Mansão do Caminho e o compromisso de Divaldo com os mais vulneráveis: “Divaldo Franco foi uma das figuras mais importantes do espiritismo e do trabalho social no Brasil. Sua obra, especialmente a Mansão do Caminho, é um exemplo de solidariedade, compaixão e serviço à humanidade. Tive a oportunidade de conhecer de perto o seu trabalho e de testemunhar o impacto positivo que ele causou na vida de tantas pessoas. A Bahia perde um de seus maiores filhos. Que sua luz continue a nos guiar”, afirmou ACM.
No meio artístico, as homenagens também ecoaram. A cantora Ivete Sangalo emocionou-se ao relembrar o legado de Divaldo: “Querido Divaldo Franco, gratidão por sua existência transformadora. Sua vida dedicada a acolher e transformar tantos sem medir esforços servirá de exemplo. Obrigada por sua linda caminhada. Vá em paz”, afirmou a artista baiana.
O cantor e multi-instrumentista Carlinhos Brown publicou uma mensagem poética: “A luz de Divaldo Franco seguirá entre nós. O seu legado de amor, empatia e serviço permanecerá no coração do povo baiano, brasileiro e de tantos outros irmãos ao redor do mundo. Divaldo foi um farol da Bahia e da espiritualidade. Sua voz seguirá como cura abrangente e profunda”, disse o percussionista.
A vida e a obra de Divaldo Franco 
Divaldo Pereira Franco nasceu em 5 de maio de 1927, em Feira de Santana (BA). Desde jovem demonstrou sensibilidade espiritual. Reconhecido como um dos maiores oradores espíritas do mundo, psicografou mais de 250 livros, atribuídos a diversos espíritos — sendo Joana de Ângelis sua mentora espiritual mais constante. Suas obras foram traduzidas para mais de 17 idiomas, com mais de 10 milhões de exemplares vendidos. Todos os direitos autorais foram integralmente destinados à Mansão do Caminho, obra social que fundou com Nilson de Souza Pereira em 1952.
A instituição, situada em Salvador, tornou-se referência internacional em acolhimento e educação, tendo atendido mais de 40 mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Oferece até hoje ensino, alimentação, assistência médica e orientação espiritual gratuita.
Além de educador e escritor 
Divaldo também era conhecido por relatos de curas espirituais, muitas das quais aconteceram após sessões de passe ou materializações mediúnicas. Episódios como o citado por Tânia Menezes, entre muitos outros, sustentam seu reconhecimento como um intermediário entre o plano físico e o espiritual.
Mesmo em idade avançada, Divaldo manteve uma rotina de palestras, seminários e viagens internacionais, levando a mensagem espírita de amor e compaixão a diferentes países.
Com sua desencarnação, encerra-se um capítulo da história do espiritismo no Brasil. Mas sua mensagem de luz permanece viva, nas obras, nas memórias e na transformação que promoveu na vida de milhares de pessoas.
“Age de tal forma que as tuas pegadas no mundo criem marcas luminosas.”   — Divaldo Franco
Fonte: Tribuna da Bahia