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Café da manhã: Preços Elevados preocupam baianos e impactam o consumo

Nos últimos cinco anos, o café teve um aumento de 276%, enquanto o dólar subiu mais de 30%

 

Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

 

 

O tradicional café da manhã, ícone cultural e queridinho dos baianos, vem enfrentando uma alta expressiva de preços que tem gerado preocupação tanto entre consumidores quanto entre empresários do setor. O aumento repentino vem obrigando famílias a se reinventarem e buscarem alternativas para manter a rotina matinal.

A equipe de reportagem da Tribuna da Bahia percorreu mercados e delicatessens em Salvador para mapear os novos valores e colher as opiniões dos frequentadores. Em um estabelecimento, o pacote de café, que anteriormente era comercializado por R$ 10,00, agora é vendido por R$ 17,90. Marcas consideradas de maior qualidade chegam a R$ 20,99, enquanto o quilo do café moído na hora atinge o valor de R$ 103,00.

Dona Laura Costa, moradora local, comentou sobre o impacto dos reajustes em sua rotina. “Está um absurdo. Estão tirando algo que faz parte de gerações, além de simplesmente não poder pagar, ao redor, as outras coisas estão impossíveis nos valores. Suco da fruta vem sendo a bebida predominante lá em casa, nunca fui muito de suco, mas estou aprendendo a ser.” Segundo Dona Laura, a alta nos preços tem levado muitos a reduzir o consumo do café, substituindo-o por outras opções mais acessíveis.

Em meio à escalada dos valores, uma delicatessen da capital oferece um copo de 300 ml de café por R$ 5,00, o que tem atraído uma fatia dos consumidores que buscam alternativas mais econômicas. “Aqui na padaria já estamos fazendo menos que o de costume, porque realmente não está saindo como antes”, afirmou uma atendente, destacando que o suco tem se destacado como a grande saída dos estabelecimentos.

Dados econômicos reforçam o cenário preocupante: o café atingiu sua maior cotação em 28 anos, segundo a série histórica do Cepea, da Esalq/USP. Para 2025, a produção de café no Brasil está projetada em 51,8 milhões de sacas de 60 kg – uma queda de 4,4% em relação a 2024, conforme projeção da Conab.

O impacto não se restringe às residências. Bares e restaurantes também sentem o peso do aumento, enfrentando dificuldades para reajustar os preços. Nos últimos 12 meses, o valor do café moído subiu 50,35%, enquanto o cafezinho servido fora de casa teve um acréscimo de apenas 10,49%, de acordo com o IPCA.

Léo Montesanto, fundador da Coffee++, enfatiza o efeito cumulativo dos reajustes:

“Nos últimos cinco anos, o café teve um aumento de 276%, enquanto o dólar subiu mais de 30%. Podemos afirmar que o custo do café triplicou, alcançando um aumento de 300%. Nos últimos 45 dias, o impacto foi ainda mais intenso.”

 

Foto: Romildo de Jesus

 

Empresários do setor, entretanto, tentam conter os repasses dos custos aos consumidores, preocupados com a perda do poder de compra e a fidelidade do cliente. Em janeiro, por exemplo, o preço do cafezinho em estabelecimentos aumentou apenas 2,71%, bem abaixo do reajuste de 8,56% observado nos supermercados.

Segundo um levantamento da Abrasel, 32% dos empresários não conseguiram reajustar seus cardápios nos últimos 12 meses, e 59% realizaram ajustes apenas em linha ou abaixo da inflação.

Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, explica que essa contenção se deve ao esforço do setor em conter a inflação de forma geral.

“O setor tem buscado segurar os preços, mas as sucessivas altas no custo do insumo tornam essa estratégia cada vez mais difícil. Como consequência, em termos relativos, tomar café em bares e restaurantes tem se tornado mais barato do que consumi-lo em casa.”

 

 

 

 

Tribuna da Bahia