A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), líder da bancada baiana no Congresso, destacou a necessidade urgente de regulamentação das redes sociais no Brasil
Foto: Chico Ferreira
Em entrevista à Tribuna, a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), líder da bancada baiana no Congresso, destacou a necessidade urgente de regulamentação das redes sociais no Brasil, em meio à disseminação de fake news como a recente polêmica envolvendo o Pix. Para a parlamentar, a propagação de informações falsas compromete a confiança da população e prejudica principalmente os mais vulneráveis. Ela também criticou a postura da Meta, acusando a empresa de promover um discurso imperialista. Lídice elogiou o desempenho do governo Lula, ressaltando avanços na redução da pobreza e no crescimento da indústria, mas alertou para desafios econômicos e internacionais. Além disso, avaliou positivamente o crescimento do PSB nas eleições municipais e defendeu a unidade da base governista para as eleições de 2026, enfatizando o papel estratégico do partido no cenário político.
Tribuna – Essa questão do governo federal sobre essa fake news envolvendo o Pix… Como é que a senhora avaliou essa questão? É mais um caso de como informações falsas podem impactar na sociedade?
Lídice da Mata – Sim, uma demonstração muito clara de como pode se levar uma sociedade a um erro. E no caso, também o cometimento de um crime contra a economia popular. Então, passível de punição, porque essa fake news deflagrou num processo de confusão na população e que, na verdade, a população que mais precisa perdeu. Sairia do limite de R$ 2 mil para R$ 5 mil e agora voltou ao limite de R$ 2 mil de acompanhamento dos bancos. Então, foi uma coisa contra a população, mas que da forma como já estava disseminada, para o governo ficou difícil manter a medida. Sob pena de perder na sua imagem diante da população. Então, eu acho que essa foi uma prova concreta que nós não podemos continuar sem regulamentar as redes.
Tribuna – A senhora acha que o governo agiu corretamente? Ou ele deveria ter sustentado e buscado alguma estratégia para poder reverter?
Lídice da Mata – Acho que o governo tentou. O governo botou o presidente da República para responder, demonstrar que não tinha problema. Botou o vice-presidente da República, o ministro falando, mas na hora que ela já se transformou numa fake news, que se disseminou de tal forma que não havia como você disputar com aquilo. A verdade sempre tem um alcance menor do que a mentira. Isso está comprovado em todos os institutos de comunicação de rede. E, além disso, eu não tenho dúvida de que houve uma ajuda da Meta depois para divulgar o deputado que continuou consolidando o discurso contra as medidas do governo. Então, eu acho que, mais do que nunca, é necessário que a Câmara e o Congresso Nacional possam regular a rede.
Lídice da Mata – A meta anunciou que vai parar de checar conteúdo, de mostrar para os usuários que determinado conteúdo pode ter uma veracidade duvidosa. Como é que a senhora viu essa medida e o que as instituições brasileiras podem fazer diante disso, além dessa regulamentação?
Lídice da Mata – Não se submeter. As instituições não devem se submeter, não devem se amedrontar. Enfrentar a Meta. A Meta teve um discurso imperialista de que ficará contra qualquer governo que prejudicar as empresas americanas. Isso é um claro discurso de um império de outro país. Quer dizer, as empresas de outros países podem ser prejudicadas. As empresas americanas não podem ser prejudicadas. E em nome disso, ele pode fazer o que quiser em qualquer país. Esse absurdo merece inclusive uma reação da nossa Justiça, mas não apenas dela, uma reação internacional para impedir a submissão dos países a três ou quatro bilionários no mundo.
Tribuna – A senhora acha que é possível haver uma punição contra o deputado Nikolas Ferreira?
Lídice da Mata – Eu acho que é possível sim, até porque não é a primeira vez que o deputado é merecedor de uma reclamação. Ele já esteve com seu nome no Conselho de Ética, quando vestido de mulher ou com a peruca feminina, ele discursou no dia 8 de março tentando ridicularizar a luta das mulheres por direitos. Então, ele é completamente merecedor de uma punição pela contribuição que deu nessa confusão contra a economia popular.
Tribuna – Essa semana a gente teve a posse de Sidônio Palmeira, que foi mais um baiano que se tornou o ministro do governo. Ele vem justamente nessa missão de melhorar a comunicação. A senhora acha que o governo tem agora uma chance de se fortalecer do ponto de vista da comunicação diante dessa onda de fake news?
Lídice da Mata – Que não é só essa relação do Pix, mas também em relação a outras ações do governo. Sim, eu acho que o governo buscou profissional experiente em comunicação de rede. Não quer dizer que no dia seguinte tudo isso se resolva, não é mágica, mas que ele possa contribuir no enfrentamento dessa realidade.
Tribuna – Como avalia o governo Lula até agora assim, de maneira bem resumida? A senhora acha que Lula tem se saído bem no que ele se propôs a fazer?
Lídice da Mata – Claro que se saiu bem, em dois anos de governo conseguiu diminuir a pobreza do país, a extrema pobreza, deu um aumento no salário mínimo, acima da inflação, manteve essa política de aumento mesmo na dificuldade, acima da inflação. A indústria do Brasil nunca cresceu tanto nos últimos 15 anos quan’’to agora, o que é um dado extremamente importante para a qualificação do nosso crescimento econômico. A indústria fornece salários mais qualificados, exige mais qualificação, dos trabalhadores, o que também significa a elevação de uma qualidade de vida, de um salário melhor. Agora, nós estamos diante de pressões enormes para impedir uma política ou melhor, levar uma política de contenção de gastos, no meu entender, abusiva, já que é trancar praticamente todo o processo de investimento do país. O país investindo mais, cresceu mais, isso não tem dúvida. Alguns setores da economia que reagem quando há um emprego, o nível de emprego grande na sociedade, porque com um emprego maior, com mais oferta, o trabalhador obviamente exige um salário maior para a sua força de trabalho. Muitos empresários não compreendem que toda a sociedade ganha com isso. Pensam primeiro em não perder nenhum centavo de lucratividade. Mas ele pode perder alguns centavos de lucratividade e crescer o conjunto do país e ele voltar a crescer mais ainda. Portanto, eu acho que o governo está bem. No entanto, não sou fora da realidade, sabemos que nesse momento o país vive uma dificuldade com tensionamento, com aumento dos juros, com a insistência em se manter uma política de taxa de juros altos e também com uma tensão internacional, com duas guerras mundiais, com o presidente Trump chegando com um discurso também de tensionamento. Então, tudo isso dificulta investimentos, cria dificuldade na economia, mas nós torcemos para que nós possamos conseguir sair nesse ano de 2025 seguindo o planejamento do governo e sair no crescimento possível e mantendo uma política sem desestabilizar na inflação.
Tribuna – E como é que a senhora avaliou o desempenho do PSB nas eleições municipais aqui na Bahia?
Lídice da Mata – O PSB foi muito bem na Bahia e em todo o Brasil. Foi um partido que cresceu no campo dos partidos progressistas, o que mais cresceu nacionalmente, e aqui na Bahia nós tivemos, percentualmente, um crescimento. Nós praticamente tivemos 50% de todos aqueles que concorreram se elegeram. Então, o PSB é um partido em crescimento e que deseja se fortalecer e crescer muito mais. Esse ano é um ano de congresso do partido. Nós temos que nos preparar para 2026 e eu creio que o crescimento do partido será uma meta e uma conquista.
Tribuna – Já tem se comentado inclusive sobre 2026, sobre composição de chapa, e aí o PT já defendeu, por exemplo, uma chapa com dois ex-governadores do PT, mais o PSD para vice-governador. Como a senhora vê essas primeiras declarações?
Lídice da Mata – Como você disse, foram as primeiras declarações. Nós estamos a mais de um ano da eleição. Todo mundo tem o direito de dizer o que quiser e os partidos, principalmente, de lutarem para o seu crescimento, para a sua afirmação. O senador Jaques Wagner é o nosso líder central, porque é o líder que iniciou esse processo de democratização da Bahia e ele apresentou uma ideia, é o pensamento dele, é o que ele acha. Pode ser que isso termine sendo o resultado total, mas como sempre, ele nunca fez nenhum gesto que levou ao afastamento de um partido e a perdas políticas para o governo. Eu acredito que a base do governo continuará unida, e que nós possamos construir um espaço político daqui até lá, onde diversos partidos possam ser contemplados.
Tribuna – E o seu partido vai se posicionar de alguma maneira, quem sabe até se colocando como uma possibilidade pra chapa?
Lídice da Mata – Então, nós vamos avaliar ainda isso. Por enquanto, nós estamos centrados em conversar a respeito da nossa participação no governo. Depois, nós vamos analisar as condições. Esse é um ano de congresso do partido, como eu disse. Nós vamos nos preparar nesse primeiro semestre para o congresso do partido, para pensar o partido de maneira nacional.
Tribuna – Quais tem sido as colocações do PSB em relação a essa participação no governo?
Lídice da Mata – O partido sempre pede pra crescer. Esse é o objetivo de todo partido. E é por isso que nós estamos mantendo o que temos e buscando crescer.
Tribuna da Bahia