“Eu costumava comprar 10 pães por R$ 7,50. Agora, o mesmo pacote custa R$ 10,00”
Foto: Ilustrativa internet
Tradição na mesa dos brasileiros, o café da manhã com pão, ovo e manteiga, é uma opção do cotidiano não só por agradar o paladar, mas também por caber no orçamento dos trabalhadores e ser uma fonte de nutrição que dá sustância para as primeiras horas do dia.
No entanto, o aumento dos preços desses principais produtos, como café, o pão, e o ovo, nos últimos meses tem gerado preocupação entre os consumidores e ameaçado afetar a alimentação matinal.
O que antes era uma refeição acessível e simples, o café da manhã com pão com ovo agora exige adaptações tanto dos consumidores quanto dos empresários. Atualmente, combo de café com pão com ovo, que antes poderia sair por R$ 3 em padarias populares de Salvador, agora não é encontrado por menos de R$5. Isso é um reflexo dos preços. Um pacote de café não sai por menos de R$20, uma dúzia de ovos por R$15 e a unidade do pão chega a R$1 em vários lugares.
Maria das Dores, moradora do bairro de Brotas, conta que viu o preço do pão aumentar quase 30% nos últimos meses e o ovo seguiu a mesma tendência. “Eu costumava comprar 10 pães por R$ 7,50. Agora, o mesmo pacote custa R$ 10,00. Isso está ficando insustentável para quem depende de um café da manhã simples e nutritivo”, explica.
A reclamação de que o valor está pesando no bolso encontra eco em vários bairros da cidade, onde diversos ambulantes vendem a preços bem populares a combinação do tradicional café da manhã do brasileiro; Mas ainda assim, mais barato. No Dois de Julho, Marcos Cesar vende todo dia no seu carrinho pão com manteiga, mais o café com leite: R$6 os dois alimentos. “Aqui acaba muito rápido, o povo já fica esperando”, afirma a moradora Diana Liz.
Por ser uma fonte de proteína acessível e amplamente consumida, a elevação de preço do ovo cria uma preocupação para muitas famílias. De acordo com dados do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o aumento no preço dos ovos pode ser atribuído a uma combinação de fatores como aumento nos Custos de Produção, com ração, insumos e energia elétrica. A alta nos preços de grãos, como milho e soja, que são bases da alimentação das aves, impactou diretamente o custo de produção.
O impacto do aumento no preço do trigo, principal ingrediente do pão, também tem sido amplamente discutido. Segundo o DIEESE, o preço do trigo aumentou em mais de 20% em Salvador nos últimos seis meses, devido a uma crise que afeta a produção mundial da commodity. Esse aumento é refletido diretamente nos preços de produtos que dependem do trigo, como o pão francês, o pão de forma, os biscoitos e até as massas.
A vendedora de roupas Andrea Mariana, 26 anos, conta que toma café da manhã há dois anos no caminho para o trabalho, no centro da cidade. “Sempre vou em padarias no caminho do trabalho e notei que tá pesando no bolso. O ideal é mesmo acordar mais cedo para preparar meu café. Porque um simples pão com ovo na padaria todo dia está mais caro do que comprar o ovo e o pão para comer em casa”, conta.
João Victor Santos, proprietário de uma padaria no Nordeste de Amaralina, relata as dificuldades enfrentadas pelos pequenos comerciantes na capital baiana. “A crise do trigo fez os fornecedores repassarem o aumento de preços, e nós, pequenos empresários, não temos outra escolha a não ser aumentar o valor do produto final. Alguns clientes chegam até a questionar o preço, mas não podemos deixar de repassar”, explica.
Ainda conforme o DIEESE, a crise do trigo tem pressionado principalmente as famílias de baixa renda, que são mais vulneráveis ao aumento dos preços de alimentos básicos. O relatório da instituição aponta que, em Salvador, o aumento do custo do café da manhã foi mais acentuado nas famílias com menores rendas, que destinam uma maior parte do orçamento doméstico para a compra de alimentos.
Apesar dos desafios impostos pela crise, alguns consumidores e empresários tentam buscar soluções criativas para não perder a tradição do café da manhã. Luciana Almeida, nutricionista, sugere que as pessoas considerem alternativas para compor o café da manhã, como frutas da estação, aveia e outros grãos. “É importante tentar se adaptar e incluir opções mais baratas, mas igualmente nutritivas”, afirma.
Enquanto isso, alguns estabelecimentos têm criado promoções e ofertas para tentar equilibrar os preços e atrair clientes. “A ideia é não aumentar demais os preços para não perder o público fiel”, afirma João Victor.
Para Maria das Dores, mãe de três filhos e empregada doméstica, a situação tem sido um grande desafio. “Antes eu comprava tudo o que meus filhos gostavam para o café da manhã: pão, leite, café, ovo, até biscoito. Agora, eu preciso fazer escolhas. Às vezes, compro só o pão e o leite, e o café vira uma opção mais cara”, conta ela, enquanto prepara a refeição em sua pequena cozinha em um apartamento no bairro de Itapuã.
Em tempos de instabilidade econômica e alta nos preços, a solidariedade local e a adaptação de hábitos alimentares tornam-se essenciais para seguir com a rotina diária, sempre com um “bom dia” e uma xícara de café, mesmo que um pouco mais cara.
Café – caso do café, o preço está em alta devido a inflação climática e a redução da oferta, além da alta do dólar e do clima adverso entre Brasil e Vietnã, principais exportadores. Além disso, está acontecendo mais exportação para suprir o mercado externo. Já a manteiga tem subido de preço devido à crise do setor de laticínios, que enfrenta um cenário de aumento de custos, como o preço do leite e das embalagens. Aliado a isso é a alta demanda onde mais se consome, que é na Ásia. Tanto o café, quanto a manteiga, por exemplo, estão na lista de maior variação de ruptura nas prateleiras dos supermercados. Os dados são do Índice de Ruptura da Neogrid, indicador que mede a ausência de produtos nas gôndolas.
Tribuna da Bahia