Três cidades pesquisadas pelo IBGE registraram aumento de dois dígitos da alimentação em domicílio em 2024
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Enquanto o governo federal estuda medidas para tentar atenuar a alta dos preços dos alimentos no País, três cidades pesquisadas pelo IBGE registraram aumento de dois dígitos da alimentação em domicílio em 2024: Campo Grande (MS), com 11,3%, Goiânia (GO), com 10,65%, e São Paulo (SP), que teve aumento de 10,07%, segundo microdados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Porto Alegre, por outro lado, registrou a inflação de alimentos mais baixa, de 2,89%, em função da forte oferta de produtos alimentícios na região, com a ajuda recebida após as chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul em maio do ano passado (veja o gráfico abaixo com a variação nas 16 cidades pesquisadas pelo IBGE).
De acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada na segunda-feira, 27, a desaprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a 49% e superou a aprovação pela primeira vez desde o início do governo. A inflação de alimentos explica parte dessa piora nos números.
Na última quarta-feira, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, chegou a falar em um “conjunto de intervenções” para baratear os alimentos, mas foi obrigado a se corrigir, por meio da própria assessoria, em função de temores de que o governo pudesse adotar medidas artificiais e com impacto fiscal para atenuar o problema.
Consumo
Para o coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, André Braz, as cidades do País que têm maior hábito de consumo de carnes bovinas acabaram sentindo um efeito maior da inflação. Isso foi visto em Campo Grande, que teve alta de 31,32% nesses produtos, em Goiânia, que teve alta de 24,21%, e São Paulo, que registrou aumento de 26,54%.
“Cidades com um peso maior da carne bovina acabaram tendo uma inflação de alimentos mais elevada, em função da forte alta desses produtos em 2024. A carne bovina foi um grande vilão dos preços″, explicou Braz.
A perda de popularidade do governo no Nordeste chamou a atenção de analistas, já que a região foi decisiva para a vitória de Lula sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022. Segundo a pesquisa Quaest, desde outubro o número dos que desaprovam a gestão Lula na região saltou de 26% para 37%.
Pelos dados do IBGE, em São Luiz (MA), os alimentos em domicílio tiveram alta de 9,56%, em Fortaleza (CE), o aumento foi de 8,1%. Já em Recife (PE), com 5,95%, em Salvador (BA), 5,84%, e Aracaju (SE), 5,07%, os aumentos foram menos intensos.
André Braz explica que a região Nordeste tende a consumir mais peixes e menos carne bovina, na comparação com outras localidades do País. Enquanto os pescados terminaram 2024 com alta de apenas 0,8%, a carne bovina subiu 20,8%.
“Ainda assim, como a renda na região Nordeste é mais baixa do que nos grandes centros urbanos, o aumento do preço dos alimentos tende a ter um efeito forte sobre a popularidade dos governantes. As pessoas vão ao mercado e voltam com menos itens para a casa”, disse.
Tribuna da Bahia