Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet; entenda como funciona o tema proposto na redação do ENEM

Tema da redação do Enem 2018 foi 'Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet' — Foto: Reprodução/Inep

 

O tema proposto para a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2018), vai além do cumprimento de uma tarefa visando a aprovação na prova. A prática de tentar influenciar o comportamento de um determinado público é antiga, e não se restringe ao pensamento político. E no que diz respeito ao meio digital, o uso dos “rastros” de navegação na internet, detalhes sobre preferências informadas nos perfis de redes sociais, são subsídios valiosíssimos para a construção de uma ideia, que apresentada estrategicamente poderá ser difundida mais facilmente.

O aproveitamento de detalhes sobre o internauta não é necessariamente uma prática nociva. É muito útil ao acessar o Facebook, por exemplo, e visualizar um alerta sobre a possibilidade de chuva. A precisão apresentada nesse alerta só é possível porque a localização atual do usuário foi identificada, e com base nesse dado, é exibida a previsão do tempo. A eficiência do Waze, aplicativo de trânsito, para propor o trajeto com menos congestionamento, só é maximizada devido ao fornecimento da localização em tempo real dos dispositivos que estão no interior dos automóveis.

Porém com tantas informações sendo coletadas e alimentando uma base de dados rica em detalhes, é preciso avaliar a interferência da exibição direcionada de informações e se elas contribuem para a formação de opiniões. O impacto da mudança cultural pode ser percebido através de uma avaliação nos padrões de consumo, comportamento coletivo e no posicionamento de opiniões. Os influenciadores digitais se beneficiam diretamente dessa prática, devido a sua capacidade de atrair a atenção dos seus seguidores, podendo faturar milhares de reais com patrocínios.

Com o uso em larga escala de bots conectados em redes sociais e compartilhando conteúdo numa velocidade humanamente impossível de ser reproduzida. É possível posicionar fatos irrelevantes entre os assuntos mais comentados, mesmo que muitos deles sequer sejam verdadeiros. Vale salientar que a automação de interatividade é uma ferramenta poderosa para humanizar canais de comunicação, mas, quando usada indiscriminadamente, se torna uma prática condenável.

A web não foi concebida para servir como uma plataforma influenciadora; Tim Berners-Lee tinha a intenção de universalizar o conhecimento mas sem influenciar o pensamento. No entendimento do físico criador da World Wide Web, a ausência de controle que temos sobre nossas próprias informações é um dos maiores problemas colaterais causados pela falta de privacidade.

É difícil imaginar um internauta apenas navegando na internet, usando o modo anônimo, sem recorrer a sites de buscas, somente consumindo a informação “pura” publicada nos sites da sua preferência. A criação de páginas com qualquer

conteúdo, mas que visam a monetização com anúncios de terceiros, a apresentação do conteúdo gerenciada por algoritmos na linha de tempo nas redes sociais, estão entre os maiores causadores de algum tipo de influência. Esses mecanismos também contribuem para a divulgação de fake news, seja apenas para atrair acessos aos sites, mas também pela capacidade de construir ou destruir reputações.

Tentar propor algum tipo de controle sobre a informação que é publicada, mesmo que fosse tecnicamente viável, não é a solução para tentar conter a influência de grupos que utilizam em benefício próprio as informações dos internautas. O desenvolvimento da capacidade de discernimento sobre quais informações devem ser levadas em consideração ainda é a alternativa analógica eticamente aceitável.

G1

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