Kátia Abreu diz que o PT vai se unir aos mesmos

 

Candidata a vice na chapa presidencial de Ciro Gomes (PDT), Kátia Abreu (PDT) endossou as críticas que têm sido feitas pelo aliado ao PT. Na avaliação dela, se o postulante Fernando Haddad (PT) vencer o pleito, ele não vai conseguir governar ou vai se unir “aos mesmos e dividir os ministérios como sempre fez” para administrar o país. “O Brasil vai continuar como antes sem projeto de nação e sem as mudanças estruturais que o país precisa”, avaliou. Para ela, o segundo turno será entre Ciro Gomes e o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Kátia Abreu teceu duras críticas ao capitão da reserva. “O problema de Bolsonaro é que ele é radical, extremista e ditador. Não tem nenhum espírito democrático. A formação dele fez isso com ele. A formação das Forças Armadas é para um fim. Não são formados para a política. Quando isso se mistura é péssimo, mostram todos os exemplos do mundo. O Brasil depois de assistir à presença das Forças Armadas na política vai adotar esse sistema? Não deu certo”, pontuou.

Tribuna – Por que Ciro não decola nas pesquisas?

Kátia Abreu – Não se trata de não decolar. Ele até decolou muito para quem tem 38 segundos de TV e para quem não tem um partido estruturado no país interior. Não tem aquela militância. [Jair] Bolsonaro também não tem estrutura partidária e não tem tempo de TV, mas tem uma diferença. Ele tem exatos três anos que mobiliza a internet com um projeto de poder. Não estou reclamando. Ele foi competente nisso. O Ciro tem cinco meses que começou nas redes sociais. Então, ele foi mais competente e evoluiu mais neste sentido. Nós estávamos ainda na luta contra o impeachment e guerrilhando contra o Michel Temer. O partido, de certa forma, se consumiu nisto e não teve o pragmatismo de fazer esse trabalho. O Ciro, na verdade, é um herói. Se não fossem suas ideias e seu preparo, estaríamos como o [Geraldo] Alckmin, Álvaro Dias e o Henrique Meirelles. 

Tribuna – Como a senhora avalia o atentado contra Bolsonaro? E a liderança dele preocupa?

Kátia Abreu – Muito. Tradicionalmente, dizem as pesquisas, 15% a 18% dos brasileiros são de extrema-direita. Não há problema. A extrema-direita desde que seja democrática não tem problema. O problema de Bolsonaro é que ele é radical, extremista e ditador. Não tem nenhum espírito democrático. A formação dele fez isso com ele. A formação das Forças Armadas é para um fim. Não são formados para a política. Quando isso se mistura é péssimo, mostram todos os exemplos do mundo. O Brasil depois de assistir à presença das Forças Armadas na política vai adotar esse sistema? Não deu certo. Eu acho que é um caminho para o precipício. Mas quem são essas pessoas que estão indo para o Bolsonaro? Eu explico. Gente que tem pavor do PT. E boa parte é gente com medo da segurança pública. Acredita na ilusão que ele provoca de que o Exército vai resolver o problema. As pessoas amam as Forças Armadas e acreditam que ele vai ser o salvador da pátria na segurança pública. Qual o projeto de Bolsonaro para a segurança pública? Armar a população. Qual o projeto dele para a educação? Fazer uma escola militar em cada estado do Brasil. Qual o projeto dele na economia? Paulo Guedes que sabe. Qual o projeto dele para o agronegócio? Qual o projeto dele para o fortalecimento da indústria brasileira? Zero. Pode procurar. Não há. Isso é uma temeridade. 

Tribuna – A senhora acredita que há espaço para retrocessos democráticos no país com uma vitória de Bolsonaro?

Kátia Abreu – A democracia não é uma pedra concreta. Ela precisa de vigilância 24 horas. A gente não brinca com isso. Tenho muita preocupação de termos um retrocesso na democracia. Não sei em que níveis nós poderíamos chegar. Não é possível prever.

Tribuna – Qual o cenário a senhora acredita que será no segundo turno?

Kátia Abreu – Eu acredito no Ciro no segundo turno. E, para mim, o mais provável é que com Bolsonaro. Eu acho que o cenário provável é Bolsonaro. O PT saiu de uma guerra há dois anos. As feridas estão todas abertas. Foram costuradas, mas não foram cicatrizadas. O PT fez coisas boas, principalmente, para as pessoas mais simples. Eu louvo isso. A presidente Dilma é uma minha amiga pessoal. Eu tenho admiração profunda por ela. É correta e trabalhadora, mas errou na economia. Quando quis consertar, a política tinha decidido pelo impeachment. Essa cicatriz ainda está muito aberta. Nós estamos tentando parar com essa animosidade e essa guerra de esquerda e direita que vem desde a eleição da Dilma e do Aécio. A gente não teve mais paz. Parece que a eleição não acabou até hoje. Então, isso atrapalha o comércio, a indústria, os profissionais liberais e, principalmente, a população mais pobre. A gente vislumbra que o PT no poder teria duas alternativas. Ou não governa porque não faz maioria se quiser mudar a política brasileira. Se sentir muito ameaçado, vai se unir, novamente, aos mesmos e dividir os ministérios como sempre fez. O Brasil vai continuar como antes sem projeto de nação e sem as mudanças estruturais que o país precisa. 

Tribuna – O que Ciro fará para dar uma arrancada agora na reta final da campanha?

Kátia Abreu – Estamos dialogando e conversando com as pessoas. Estamos divulgando as nossas premissas. Não vamos começar do zero. Vamos aproveitar o que há de bom da esquerda e da direita. Ciro é o único candidato que detalha o que vai fazer. Os que estão detalhando agora estão copiando escandalosamente as propostas do Ciro. Ótimo. É sinal de que vão apoiar as nossas propostas.

Tribuna – Como vai tratar o MST?

Kátia Abreu – Dentro da caixinha. O desejo de ter terras é legitimo. O desejo de ter uma casa própria é legitimo. O direito de ter um diploma é legítimo. Agora, eu não posso tomar o seu diploma para mim. Eu não posso invadir a sua casa ou sua terra para mim. Agora, um presidente da República sensível, como é o Ciro Gomes, fará políticas públicas. Não adianta prometer ao MST que nós vamos fazer uma reforma agrária infinita e sem limites. Não seria justo e honesto com eles. Nós vamos fazer casas por três motivos. Primeiro porque as pessoas precisam. Segundo para aquecer a economia e terceiro porque precisamos empregar gente com mão-de-obra baixa. Já temos o dinheiro para fazer casas e saneamento básico. 

Tribuna – A maior crítica que se faz a Ciro é em relação ao temperamento. O que pensa sobre isso?

Kátia Abreu – É um equívoco isso. O Bolsonaro grita para falar de negros, pobres e mulheres. O Ciro Gomes grita para combater a corrupção. É sempre clamando contra a corrupção. Geddel tem processo contra ele. Todos do MDB têm processo contra ele após a acusação de corrupção. O temperamento dele, neste momento, é necessário para o Brasil. Não é um temperamento de truculência. 

 

 

 

 

Tribuna da Bahia

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